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Precisamos racializar o discurso contra o padrão estético.

Tem me incomodado bastante a falta de recorte racial nas rodas de conversas pretas em encontros estéticos, nas publicações online, sobre corpo.


​​Como mulher gorda, compreendo todas as barreiras do dia-a-dia. O pânico da catraca do ônibus, a incerteza da resistência das cadeiras nas festinhas, a expectativa das pessoas nos restaurantes de que você vá comer o mundo e mais um pouco. A falta de acessibilidade a roupas que de verdade sejam produzidas pensando em nossas curvas, hora por valor absurdo, hora por simplesmente estarem fora do molde ao que se propõe (tipo, comprar uma calça nº 50 e o molde dela ser 48). A falta de sensibilidade dos médicos com pacientes obesos, bem como a falta de estrutura médica para tratá-los (sempre achei que obesidade deveria ser tratada acima de tudo com psicólogos, pois muitos dos nossos problemas com a comida, vêm de terríveis traumas passados... ou até presentes... Mas isso é papo pra outra publicação!).


Mas, como mulher preta, compreendo que o que inicia a falta de respeito à mim como indivíduo não está contido no fato de ser gorda. Ser obeso é ser "diferente" e tudo o que é "diferente" a "humanidade" descarta. Mas, não considero o fato de ser gorda, como ponto principal da opressão social que me atinge. Esta, está contida, indiscutivelmente primeiro, no fato de eu ser mulher preta, descendente de africanos. Aprendi que em tudo na minha vida, a Raça vem primeiro, exatamente por isso o nome da minha página/blog se apresenta nesta ordem.


Não adianta nós, quanto mulheres pretas, levantarmos a voz acerca de nossas dores, sem fazer o recorte racial. Sem falar ao mundo que a mulher negra ainda é hipersexualizada pela sociedade, mídia etc. Que os brancos largaram sobre nós todos os rótulos pejorativos, que nosso corpo ainda é explorado, nossa cultura ainda é marginalizada e tudo, absolutamente tudo o que remete a África ainda é demonizado. E isso não pára apenas na religião... É nítido para os olhos que realmente querem ver, que essa demonização está presente em todos os aspectos.


Quando eu estava na escola primária, o que se chama hoje de ensino fundamental, as crianças me "zoavam" pelo tamanho da minha boca, pelo tamanho das minhas nádegas. E "zoavam", de maneira grosseira, hipersexualizada. Ao ponto de eu sentir vergonha de mim mesma e fazer de tudo para parecer invisível. No ensino médio, no meu primeiro dia de aula, um professor de Literatura estava explanando sobre evolução da literatura, e ao falar de evolução, citou como exemplo que nós seres humanos tínhamos cauda mas que a perdemos com o tempo, e que pessoas ainda tinham o vestígio dela. E apontou pra mim. E ainda terminou dizendo que se eu levasse um tombo, não quebraria nada porque meu traseiro amorteceria. Não entendi o motivo dele ter feito aquilo, só senti um ódio infernal dele na época... Poxa, eu não conhecia ninguém, já me sentia horrível naturalmente... Como ele me expor assim?


Com o passar do tempo, fui entendendo que a medicina considera a curvatura da nossa coluna, a lombar, como um defeito, uma anomalia. Ou seja... Todos os povos do mundo inteiro possuem características peculiares, que definem quem são e de onde vêm. Nós, descendentes de africanos, somos anormais, por nossas características físicas e, neste caso, nossa estrutura óssea.


O que eu quero realmente dizer com esses relatos é que mulheres e homens pretas e pretos sofrem diariamente uma pressão social em se tornarem brancos. Nossos cabelos, narizes, pele, são marginalizados desde o período escolar e crescemos com essas marcas. Algumas não se fecham, fazendo com que nos condicionemos a métodos para fugir desses estereótipos, como alisar os cabelos, clarear a pele, cirurgias para diminuição de determinadas partes do corpo. Independente da mulher preta ser gorda, como eu, ela tem curvas e essas curvas incomodam. Vulgarizam nossa voluptuosidade das coxas, quadris e bustos, ao ponto de ser criado um padrão branco, para excluir quais quer possibilidade de sermos exemplo, padrão de beleza a ser seguido. Ou seja, o problema não é exatamente sermos gordas, gordinhas, obesas, rechonchudas, e todas essas nomenclaturas. O problema é sermos beneficiadas pela natureza, que nos proporcionou corpos lindos e maravilhosos.


É importante que a gente lembre de tantas artistas que só recebem papeis de empregadas domésticas, porque determinou-se que as mulheres mais corpulentas eram feias e só serviam para ficar trabalhando onde fossem mais invisíveis. É importante que a gente perceba que quem ganha espaço na mídia é a Globeleza exibindo seu corpo nu para branco ver.


A nossa guerreira a Sarah Bartman, a Vênus Negra, que possuía características físicas comuns ao povo que fazia parte, mas que foram vulgarizadas e marginalizadas pelos brancos que a utilizaram como objeto de pesquisa, exibição, humilhação pública e a prostituíram. Mulheres pretas de fato gordas, mulheres magras com suas curvas acentuadas... Todas nós temos uma história pra contar sobre o quanto as maravilhosas curvaturas dos nossos corpos, um dos maiores motivos de orgulho de sermos descendentes de africanas e africanos, são diminuídas e marginalizadas pelo rolo compressor do racismo e seus mantenedores. Chamo aqui as irmãs à esta reflexão e a esse pedido: RACIALIZEM O DISCURSO! Somos mulheres pretas acima de tudo. Nossos corpos precisam ser respeitados!


Grande beijo, enorme abraço!

Resistência!

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